Embora considerasse que o interlocutor exagerava, não gostava de o contradizer. Como poderia fazê-lo? Ele era rico e Gordon pobre. E como se pode discutir acerca da pobreza com alguém que é autenticamente pobre?
- E a forma como as mulheres nos tratam, quando não temos dinheiro! - prosseguiu Gordon. - Esse é outro elemento de realce na malfadada questão do dinheiro: as mulheres!
Ravelston inclinou a cabeça, com uma expressão de melancolia. Aquilo parecia mais razoável do que ouvira até então. Pensou em Hermione Slater, a sua moça. Havia dois anos que eram amantes, mas ele nunca se preocupara em lhe propor casamento. Era «uma grande maçada», costumava ela dizer. Dispunha de recursos materiais, evidentemente. ou, se não ela, pelo menos a família. Ravelston evocou os seus ombros, largos e suaves e jovens, que dir-se-ia irromper do vestuário como uma sereia erguendo-se do mar, e a tez e cabelo, atraentes e indolentes, como um campo de trigo ao sol. Hermione bocejava sempre que ouvia falar de socialismo e recusava-se mesmo a ler o Anticristo. «Não me venhas com essas histórias das classes inferiores», costumava dizer. «Odeio-as. Cheiram mal» E ele adorava-a.
- Sem dúvida que as mulheres são uma dificuldade - admitiu.
- São mais do que isso. Considero-as uma autêntica maldição. Para quem não tem dinheiro, claro. As mulheres abominam-nos, se somos pobres.
- Penso que não é bem assim. As coisas não são tão cruéis como as pinta.
Todavia, Gordon não prestava atenção às objecções de Ravelston.
- É absurdo falar de socialismo ou qualquer outro «Ismo», quando as mulheres são aquilo que sabemos! A única coisa que lhes interessa é o dinheiro: dinheiro para uma casa própria, dois bebés, mobiliário Drage e uma aspidistra. O pecado solitário que podem imaginar consiste em não querer açambarcar dinheiro. Nenhuma avalia o potencial de um homem por coisa alguma que não sejam os seus rendimentos. É claro que ela não põe a questão a si própria nestes termos.