Sem qualquer palavra pronunciada e uma espécie de certeza corporal, sabia que dentro de menos de uma hora a teria nos braços, despida. Entretanto, sentados frente a frente, com os joelhos em contacto, afigurava-se-lhes que já tudo se consumara. Havia uma intimidade profunda entre' ambos. Poderiam ter continuado ali ao longo de horas, limitando-se a olhar um para o outro e falar de trivialidades que se- revestiam de significado apenas para eles e mais ninguém. Permaneceram durante vinte minutos, pelo menos. Gordon esquecera-se do empregado e, momentaneamente, o desastre de se ter deixado arrastar para aquele almoço que o privaria de todo o dinheiro que possuía. Mas, por fim, regressaram à realidade e compreenderam que eram horas de partir.
- A conta - pediu ele, voltando-se ligeiramente para trás.
O empregado efectuou um derradeiro esforço para se mostrar ofensivo.
- A conta, senhor? Não desejam tomar café?
- Não. Apenas a conta.
Afastou-se e reapareceu com um rectângulo de papel dobrado numa pequena bandeja. Gordon desdobrou-o. Seis xelins e três pence... e ele dispunha exactamente' de sete e onze! Embora fizesse uma ideia aproximada do que teria de pagar, a confirmação produzira-lhe um pequeno abalo. Levantou-se, introduziu a mão na algibeira e puxou de todo o dinheiro. O pálido empregado, com a bandeja na mão, olhou o punhado de' moedas, adivinhando claramente que se tratava de todo o que Gordon possuía. Rosemary, que também se pusera de pé, contornou a mesa e' beliscou o cotovelo de Gordon, numa indicação de que desejava participar na despesa, todavia ele fingiu não se aperceber.