- Muito bem.
Mas não se tratava realmente de uma vitória.
O empregado não parecia perturbado. «Merecerá o vinho que o aqueça?», dir-se-ia perguntar a sobrancelha arqueada. No entanto, levou a garrafa com uma expressão de mofa, deixando bem claro a Rosemary e Gordon que já era grave que pedissem o vinho barato da lista, para ainda por cima apresentarem reclamações sobre a sua temperatura.
As carnes e a salada estavam cadavericamente frias e não pareciam comida verdadeira. Sabiam a água. O pão, algo rançoso, também denotava elevada percentagem de humidade. A água de certo modo lodosa do Tamisa dava a impressão de se ter entranhado em tudo. Por conseguinte, eles não ficaram surpreendidos ao descobrirem que o clarete sabia a lama.
Mas era ao menos alcoólico e notavelmente' estimulante, depois de ultrapassar a garganta e penetrar no estômago. Após ingerir um copo e meio, Gordon sentiu-se muito melhor. O empregado conservava-se junto da porta, ironicamente paciente, o guardanapo dobrado sobre o braço, tentando tornar os dois indesejáveis clientes desconfortáveis com a sua presença. Ao princípio, conseguiu-o, porém Gordon achava-se de costas para ele e ignorava-o e acabou por quase o esquecer por completo. A coragem reapareceu em ambos gradualmente e começaram a conversar mais facilmente e em voz mais alta.
- Já viste? - disse Gordon, em dado instante. Os cisnes seguiram-nos até aqui.
Com efeito, os dois cisnes navegavam vagamente de um lado para outro na água esverdeada. Naquele momento, o sol irrompeu de novo e, o tenebroso restaurante-aquário foi inundado por uma claridade aprazível. Gordon e Rosemary sentiram-se repentinamente reconfortados e felizes. Começaram a conversar sobre banalidades, quase como se o empregado não estivesse presente, e Gordon pegou na garrafa e voltou a encher os copos. Quando os levavam aos lábios, os seus olhares cruzaram-se.