O Vil Metal - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 167 / 257

O olhar apreensivo de Ravelston procurou o de Gordon do outro lado da mesa. «É muito caro!», tentava preveni-lo telepaticamente.

- É um daqueles vinhos efervescentes? - quis saber Rosemary.

- Muito efervescente, madame. Um vinho muito vivo. Très vif! Pop!

As mãos adiposas do homem efectuaram um gesto que descrevia cascatas de espuma.

- Asti - decidiu Gordon, antes que Rosemary pudesse impedi-lo.

Ravelston parecia cada vez mais acabrunhado. Sabia que o Asti custava entre dez e quinze xelins a garrafa. No entanto, Gordon fingia que não se dava conta de nada. Começou a falar de Stendhal - associação com a duquesa de Sanseverina e o seu force vin d'Asti. A garrafa de Asti foi trazida num balde de gelo - um erro, como Ravelston podia ter explicado a Gordon. A rolha brotou do gargalo. Pop! O vinho espumoso encheu as largas taças. A atmosfera em torno da• mesa alterou-se misteriosamente. Acontecera algo aos seus três ocupantes. O vinho operara a sua magia mesmo antes de ser ingerido. Rosemary perdeu o nervosismo, Ravelston a preocupação com a despesa e Gordon a resolução irreflectida de ser extravagante. Comiam anchovas, pão, manteiga, linguado frito, faisão assado com esparregado e batatas cortadas em palitos, mas, em especial, bebiam e conversavam. E de que forma brilhante conversavam... ou, pelo menos, assim lhes parecia! Referiam-se à crueldade da vida moderna e à não menor crueldade dos livros modernos. De que outra coisa se pode falar, nos tempos que correm? Como de costume (mas com que diferença de tom, agora que tinha dinheiro nos bolsos e não acreditava realmente no que dizia), Gordon arengava sobre a aridez e apatia da época em que vivemos. Preservativos e metralhadoras! O cinema e o DaIly Mail! Constituía uma verdade profunda como os ossos, quando percorria as ruas com duas ou três moedas de cobre na algibeira, mas uma anedota, naquele momento.

Resultava divertido - e é divertido, quando há boa comida e vinho de qualidade alojados no estômago - demonstrar que vivemos num mundo morto e putrefacto.





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