Mostrava-se espirituoso à custa da literatura moderna - todos eles davam provas de espírito. Com o admirável desdém dos autores não publicados, Gordon derrubava reputação após reputação. Shaw, Yeats, Eliot, Joyce, Huxley, Lewis, Hemingway - cada um, com uma ou duas frases banais, era varrido para o caixote de lixo. Que pena o divertimento não poder perdurar! E, obviamente, naquele momento especial, ele acreditava que podia. Da primeira garrafa de Asti, Gordon bebeu três taças, Ravelston duas e Rosemary uma. O primeiro reparou que uma jovem da mesa em frente o observava. Uma moça alta e elegante de tez rosada e olhos amendoados admiráveis. Rica, evidentemente - um membro da intelligentsia endinheirada. Considerava-o interessante e perguntava-se quem seria. Gordon descobriu-se a fabricar comentários jocosos especiais para que ela os escutasse. E revelava-se de facto espirituoso, sem a menor dúvida. Isso também se devia ao dinheiro. O dinheiro lubrifica as rodas - tanto do pensamento como dos táxis.
Todavia, a segunda garrafa de Asti não repetiu o êxito da primeira. Antes de mais, registou-se um certo desconforto relacionado com o respectivo pedido. Gordon chamou o empregado e perguntou:
- Têm outra garrafa como esta?
- Sim, senhor! - O homem inclinou-se com deferência. - Mais certeinement, monsieur!
-Não, Gordon! - Rosemary enrugou a fronte e tocou-lhe no pé por baixo da mesa. - Não faças isso.
- O quê?
- Pedir outra garrafa. Não a queremos.
- Qual história! Traga outra garrafa, por favor.
- Sim, senhor.
O empregado afastou-se e Ravelston fez deslizar o nó do indicador pelo nariz. Com a expressão do olhar demasiado culposa para encarar Gordon, fixava-o na taça de vinho.
- Deixe-me pagar esta.
- Qual história! - Redarguiu Gordon.
- Então, pede meia garrafa - sugeriu Rosemary.
- Uma garrafa das grandes.
A partir daí, nada foi igual. Embora continuassem a conversar, rir e discutir, a atmosfera mudara de aspecto. A jovem elegante da mesa em frente desistiu de observar Gordon.