- Vamos embora - decidiu com brusquidão, ao mesmo tempo que se levantava.
- Sim, vamos! - assentiu Rosemary, com alívio. Voltaram a encontrar-se em Regent Street. Ao fundo, à esquerda, via-se o clarão da iluminação intensa de Piccadilly Circus.
Rosemary volveu os olhos para a paragem de autocarro no outro lado da rua.
- São dez e meia - disse, numa inflexão de dúvida.
- Tenho de entrar na pensão até às onze.
- Não penses nisso! Procuremos um botequim decente. Não prescindo da minha cerveja.
- Isso não, Gordon! Acabaram-se os botequins, esta noite. Não sou capaz de beber nem mais uma gota. E tu também não o deves fazer.
- Esquece isso. Vamos por aqui.
Ele pegou no braço de Rosemary e começou a conduzi-la em direcção ao fundo de Regent Street, segurando-a com força, como se receasse que lhe fugisse. De momento, esquecera-se de Ravelston, que os seguia, perguntando-se se devia separar-se deles ou acompanhá-los, a fim de vigiar Gordon. Entretanto, Rosemary resistia e tentava ficar para trás, contrariada com a maneira como ele a arrastava.
- Aonde me levas, Gordon?
- À esquina, que há menos luz. Quero beijar-te.
- Não me apetece ser beijada.
- Apetece, sim.
-Não!
-Sim!
Acabou por ceder. Por seu turno, Ravelston aguardava na esquina junto do Regent Palace, indeciso quanto ao rumo a tomar. Gordon e Rosemary desapareceram na' rua contígua e viram-se' quase imediatamente tragados pela escuridão de artérias mais estreitas. Os rostos impressionantes de prostitutas, como caveiras sob uma capa de pó rosado, assomavam significativamente em numerosas portas. Rosemary encolhia-se ao descortiná-las, enquanto Gordon parecia divertido.
- Julgam-te uma delas - explicou com naturalidade.
Deteve-se, pousou a garrafa no chão, cautelosamente, apoiada à parede, e, de repente, cingiu Rosemary e inclinou-a para trás.
Desejava-a ardentemente e não queria perder tempo com preliminares. Principiou por lhe beijar o rosto, precipitadamente, mas com vigor.