O Vil Metal - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 221 / 257

- Sim, mas... Há lugares melhores, sem dúvida. Quanto paga de renda?

- Oito xelins.

- Oito xelins? Por esse preço, consegue um quarto sem mobília muito decente. Pelo menos, mais habitável que este. Por que não procura um e permite que lhe empreste dez libras para a mobília?

- «Emprestar-me» dez libras? Depois de tudo o que já me emprestou? Dar-me dez libras, quer você dizer.

Desviou os olhos para a parede, embaraçado. Que coisa para dizer, com a breca!

- Muito bem - concedeu em voz átona. - Dou-lhe dez libras.

- Só que eu não as quero, percebe?

- Mas deve procurar um lugar decente para viver!

- Não me interessa um lugar decente. Prefiro-o indecente. Este, por exemplo.

- Mas porquê? Porquê?

- Adapta-se à minha situação - asseverou Gordon, voltando o rosto para a parede.

Dias depois, Ravelston escreveu-lhe uma longa e tímida carta, em que reiterava a maior parte do que dissera na sua conversa. O sentido geral consistia em que compreendia inteiramente o seu ponto de vista, havia uima elevada percentagem de verdade nas palavras que pronunciara e tinha absoluta razão em princípio, mas... Seguia-se o óbvio e inevitável «mas», Gordon não respondeu, e passaram vários meses primeiro que voltasse a ver o editor. Entretanto, este último efectuou diversas tentativas para contactar com ele. Resultava curioso - mais do que vergonhoso, de um ponto de vista socialista - o facto de que pensar em Gordon, possuidor de miolos e de ascendência irrepreensível, a definhar naquela casa horrível e num emprego quase de subserviência, o preocupava mais do que os dez mil desempregados em Middlesbrough. Esperançado em o animar um pouco, escreveu-lhe várias vezes para pedir que enviasse trabalhos, a fim de serem publicados no Anticristo. Gordon continuou a manter o silêncio epistolar. Tudo indicava que a amizade chegara ao fim. O período hediondo em que vivera à custa de Ravelston deitara tudo por terra. A caridade mata a amizade.





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