E parecia importar pouco que o tempo passasse e as possibilidades de ele ganhar a vida com decência serem infinitamente remotas, porque ainda se considerava uma jovem de futuro não menos ilimitado. Vira-o desperdiçar dois anos da sua vida - dois anos da vida dela, igualmente - e afigurara-se-lhe pouco generoso protestar.
Mas agora começava a alarmar-se. O carro alado do tempo aproximava-se rapidamente. Quando Gordon perdeu o emprego, ela compreendeu subitamente, com a sensação de ter feito uma descoberta surpreendente, que afinal não era muito jovem. O trigésimo aniversário dele já pertencia ao passado e o de Rosemary não distava muito. E que se apresentava à sua frente'? Gordon mergulhava, sem reagir, no malogro cinzento e irremediável. Na realidade, parecia querer mergulhar. Que esperanças lhes restavam de um dia virem a casar? Ele sabia que ela tinha razão. A situação era impossível. E assim, criava raízes nas mentes de ambos, a ideia ainda não aflorada de que teriam de se separar - para sempre.
Certa noite, tinham combinado encontrar-se sob o viaduto do caminho-de-ferro. Fazia um tempo horrível de Janeiro - sem nevoeiro, por uma vez, mas soprava um vento desabrido que varria todos os cantos das ruas e atirava papéis e poeira aos rostos dos transeuntes. Gordon chegou primeiro e aguardou - um vulto encolhido, mal trajado, quase andrajoso, cabelos agitados pelo vento. Rosemary foi pontual, como sempre. Correu para ele, puxou-lhe o rosto para baixo e beijou a face fria.