- Estás gelado, Gordon querido! Por que não vestiste o sobretudo?
- Pu-lo no prego. Julgava que sabias.
- Ah, tens razão!
Olhou-o atentamente, com uma pequena ruga entre as sobrancelhas pretas. Achava-o muito macilento, abatido, ao clarão incerto da arcada, o semblante cheio de sombras.
Por fim, enfiou o braço no dele e puxou-o para a luz.
- É melhor andarmos, para aquecer os pés. Faz muito frio para estarmos parados. Quero dizer-te uma coisa importante.
-O quê?
- Calculo que vais ficar fulo comigo.
- De que se trata?
- Esta tarde, fui falar com Mr. Erskine. Pedi que me recebesse por uns minutos.
Gordon adivinhou o que se seguiria e tentou soltar o braço, mas ela recusava-se a largá-lo.
- Então? - inquiriu, em tom amuado.
- Falei-lhe de ti. Perguntei se estaria disposto a aceitar-te. É claro que argumentou que o negócio corria mal, a firma não podia admitir mais pessoal e coisas do género. No entanto, recordei-lhe o que te dissera e admitiu que te considerava muito prometedor. Finalmente, declarou que te daria trabalho, se o procurasses. Portanto, eu tinha razão, como vês. Eles querem readmitir-te. - Rosemary fez uma pausa e, como ele se conservasse silencioso, apertou-lhe o braço. - Que, pensas disto?
- Sabe-lo perfeitamente - replicou Gordon, friamente.
No entanto, sentia-se alarmado e irritado. Era o que temia. Sabia que ela faria aquilo, mais cedo ou mais tarde. Tornava a situação mais definida e a sua própria culpa mais clara. Caminhava pesadamente, mãos afundadas nos bolsos do casaco, deixando-a pegar-lhe no braço, mas sem a olhar.
- Ficaste zangado comigo?
- Não, mas não percebo por que fizeste isso... nas minhas costas.
Estas palavras magoaram-na. Tivera de insistir com veemência até conseguir arrancar a promessa dos lábios de Mr. Erskine.
E necessitara de recorrer a toda a sua coragem para enfrentar o director-gerente no seu covil. Na verdade, receara que a tentativa obtivesse como único resultado o seu despedimento. No entanto, não revelaria nada daquilo a Gordon.