Dominada pelo desespero, Júlia perguntou-lhe o que tencionava fazer, agora que desperdiçara o último ensejo de triunfar na vida, e ele respondeu simplesmente: «Os meus poemas.» Dissera o mesmo a Rosemary e Ravelston. No caso deste último, a resposta bastara, mas ela já não tinha a mínima fé nos seus poemas, embora se abstivesse de o admitir. Quanto a Júlia, os versos do irmão nunca se haviam revestido do menor significado. «Não vejo qualquer vantagem em escrever, se não dá dinheiro», afirmava com frequência.
E ele próprio já não acreditava nos seus poemas. Não obstante, ainda se esforçava por «escrever», pelo menos às vezes. Pouco depois de mudar de alojamento, copiara para folhas de papel em branco as porções completadas de Prazeres Londrinos - menos de quatrocentas linhas, como descobriu. Até o trabalho de as copiar constituíra uma tarefa fastidiosa. No, entanto, ainda se debruçava sobre o trabalho de vez em quando - para cortar uma passagem aqui, alterar outra ali, sem efectuar, ou sequer esperar, qualquer progresso. As páginas não tardaram a ficar como anteriormente - um intrincado e rabiscado labirinto de palavras. Costumava levar o maço do denso manuscrito na algibeira. A pressão do seu vulto reconfortava-o um pouco. No fundo, representava uma espécie de proeza, demonstrável a si próprio, embora a mais ninguém, um produto de dois anos - porventura de mil horas de trabalho, Já não lhe inspirava a mínima sensação como poema. O conceito de poesia carecia totalmente de significado. Era apenas que, se Prazeres Londrinos fossem alguma vez terminados, constituiriam algo arrancado ao Destino, uma coisa criada fora do mundo-dinheiro. Contudo ele sabia, com muito maior clareza que no passado, que nunca os terminaria. Como era possível que lhe restasse algum impulso criativo, na vida que agora levava?