Havia semanas que não se encontrava com Rosemary. Ela escrevera-lhe várias vezes e de súbito, por razões desconhecidas, deixara repentinamente de o fazer. Por outro lado, Gordon recebera uma carta de Ravelston, que lhe pedia que escrevesse um artigo sobre as livrarias de dois pence para o Anticristo. Júlia enviara-lhe uma breve e nostálgica carta em que fornecia notícias da família. A tia Ângela padecera de resfriados consecutivos ao longo do Inverno e o tio Walter queixava-se de problemas na bexiga. Gordon não respondeu a qualquer das missivas. Na realidade, até esqueceria a sua existência, se pudesse. Elas e o afecto que as envolviam apenas constituíam um empecilho. Impediam-no de ser livre, para se afundar cada vez mais na lama final e cortar os laços com todos eles, e a própria Rosemary.
Certa tarde, escolhia um livro para uma jovem de cabelos platinados, quando alguém que ele descortinou apenas pelo canto do olho entrou na livraria e hesitou junto da porta.
- Que género de livro deseja? - perguntou à loira.
- Bem... um romance qualquer, por favor.
Gordon escolheu um romance e quando se voltou sentiu as palpitações do coração acelerarem-se. A pessoa que acabava de entrar era Rosemary. Sem fazer qualquer sinal, conservava-se à espera, pálida, de expressão apreensiva, com algo de ominoso no seu aspecto geral.
Ele sentou-se à secretária para anotar a saída do livro da loira, mas as mãos tinham começado a tremer de tal modo que o fazia com dificuldade e aplicou o carimbo no espaço errado. A rapariga afastou-se, ao mesmo tempo que folheava o volume. Entretanto, Rosemary observava o rosto de Gordon. Havia muito tempo que não o via à luz do dia e ficou impressionada com as alterações que notava. As faces pareciam chupadas, com intensificação da palidez própria de quem se alimenta à base de pão com manteiga e a roupa revelava-se indiscutivelmente ainda mais coçada, além de que parecia muito mais velho - uns trinta e cinco anos, pelo menos.