De novo sós, virou-se para Rosemary.
- Bem, que diabo vamos fazer? - perguntou, com ansiedade.
- Confesso que não vejo o que eu possa fazer. Se tiver o bebé, perco o emprego, sem dúvida. E não é só isso que me preocupa, mas o facto de a minha família se inteirar. A minha mãe... Nem quero pensar nisso!
- Ah, a tua família! Não me lembrava dela. As nossas famílias! Que malfadados empecilhos são!
- Não tenho razão de queixa da minha. Sempre me tratou o melhor possível. Mas numa situação destas, é tudo muito diferente.
Gordon deu alguns passos em excitado vaivém, por uns momentos. Embora a notícia o tivesse alarmado, ainda não abarcava toda a sua dimensão. A ideia de uma criança, o seu filho, a crescer no ventre dela não lhe despertara qualquer emoção, além de desolação. Não pensava no bebé como uma criatura viva, mas uma calamidade pura e simples. E já descortinava onde tudo aquilo iria parar.
- Bem, acho que vamos ter de casar - declarou em voz átona.
- Parece-te? Foi para te perguntar isso que vim.
- Mas suponho que queres que case contigo?
- Só se tu quiseres. Não tenciono obrigar-te. Sei que o casamento é contrário às tuas ideias. Tens de decidir sozinho.
- Mas não temos qualquer alternativa... se pretendes realmente ter o filho.
- Não forçosamente. É o que deves decidir. Porque, na realidade, existe outro meio.
- Qual?
- Ora, tu sabes qual é. Uma colega deu-me um endereço. Uma amiga fez um apenas por cinco libras.
A revelação arrancou-o da apatia. Apercebeu-se pela primeira vez, com a única espécie de conhecimento que conta, do que estavam realmente a falar.
A expressão «um filho» assumiu uma nova significação. Já não se referia a uma mera calamidade abstracta, mas a um rebento de carne e osso, um pedaço dele próprio, lá em baixo, no ventre dela, vivo e em desenvolvimento.