Era nas ocasiões em que explorava o sentimento de decência de cada um que triunfava nos seus implacáveis desígnios.
A Balada Bovex vibrava-lhe na mente. Tinha de se manter firme. Declarara guerra ao dinheiro e não podia recuar, nem sequer vacilar. Aliás, até ali resistira vitoriosamente a todos os ataques, embora à sua maneira, Rememorou a sua vida. Não merecia a pena tentar iludir-se. Fora uma existência horrível - solitária, sórdida, fútil. Vivera trinta anos sem conseguir coisa alguma além de miséria. No entanto, fora esse o caminho que escolhera. Correspondia ao que queria, mesmo agora, Queria afundar-se na lama onde o dinheiro não impera. Mas a questão do bebé transtornara tudo. Na realidade, tratava-se de uma situação muito normal. Vícios íntimos, virtudes públicas - o dilema é tão velho como o mundo.
Notou que passava diante de uma biblioteca pública, e acudiu-lhe uma ideia. O bebé... Que significava, no fundo, ter um filho? Que acontecia realmente a Rosemary, naquele momento? Gordon tinha apenas noções vagas e gerais sobre a natureza da gravidez. Na biblioteca, decerto havia livros que o elucidariam. Por conseguinte, entrou. A secção de empréstimo de volumes situava-se à esquerda. Era aí que se devia perguntar por obras de consulta.
A mulher atrás da secretária era uma universitária jovem, incaracterística, de óculos e intensamente desagradável, possuidora da suspeita fixa de que ninguém - pelo menos, do sexo masculino - procurava obras de consulta senão para ler temas pornográficos.
Mal via alguém aproximar-se, cravava-lhe o olhar perscrutador através das lentes grossas, para indicar que o segredo obsceno era do seu conhecimento. Na verdade, todas as obras de consulta são pornográficas, salvo a possível excepção do Almanaque de Whitaker. Até o dicionário de Oxford se pode utilizar para fins inconfessáveis, se se procuram palavras como...
Gordon identificou o tipo com uma simples olhadela, mas estava demasiado preocupado para se impressionar. - Tem alguma coisa sobre ginecologia?