Encaminhava-se na direcção geral do seu quarto-sala. Olhava vagamente as casas diante das quais passava. Percorria uma rua que não conhecia. Casas antigas, de aspecto desagradável e sombrias, na sua maioria alugadas em apartamentos ou quartos isolados. Áreas vedadas, tijolos enegrecidos pela fuligem, degraus de acesso brancos, cortinas de renda encardidas. Escritos de aluguer em numerosas janelas, aspidistras em quase todas. Uma rua de' classe média-baixa típica.
Mas não, no seu conjunto, o tipo de artéria que ele queria ver destruída por bombas.
Pensou nas pessoas que habitavam casas como aquelas. Deviam ser, por exemplo; modestos escriturários,' empregados de balcão, viajantes comerciais, angariadores de seguros, condutores de «eléctricos». Saberiam que não passavam de títeres que dançavam quando' o dinheiro puxava os cordelinhos? Decerto' que não.' E se soubessem, que lhes importaria? Achavam-se demasiado atarefados a nascer, casar, reproduzir-se, trabalhar, morrer. Não seria mau de todo, se houvesse possibilidade, sentir-se como eles, um de uma multidão de homens. A nossa civilização baseia-se na cobiça e medo, mas nas vidas dos homens comuns acham-se misteriosamente transmutados em algo de mais nobre. As pessoas da classe média-baixa dali, por detrás dos seus cortinados de renda, com os seus filhos, mobiliário desirmanado e aspidistras, viviam em obediência ao código do dinheiro, apesar do que conseguiam conservar a decência. O código do dinheiro como o interpretavam não era meramente cínico e porcino. Possuíam os seus princípios, os seus pontos de honra invioláveis. «Conservavam-se respeitáveis» - mantinham a aspidistra viva. Além de mais, estavam vivos. Encontravam-se envoltos no embrulho da vida. Produziam filhos, algo que os santos e os salvadores de almas nunca tinham oportunidade de fazer.