A lamparina emitiu um som como um soluço abafado e apagou-se. Com um esforço, Gordon pôs-se de pé e tornou a estender a colcha em cima da cama. Talvez fosse conveniente deitar-se, antes que o frio aumentasse. Mas espera. Amanhã, há trabalho. Dar corda ao despertador e regular o alarme. Nada efetuado, nada concebido, merecera uma noite de repouso.
Passou algum tempo antes que lograsse reunir energias suficientes para se despir. Durante cerca de um quarto de hora, permaneceu deitado na cama vestido, mãos sobrepostas sob a cabeça. Havia uma racha no teto que parecia o mapa da Austrália. Por fim, conseguiu tirar os sapatos e as peúgas sem se endireitar. Ergueu um pé e olhou-o. Um pé pequeno, delicado. Insignificante, como as mãos. Além disso, estava muito sujo. Devia haver dez dias que não tomava banho, Envergonhado da sujidade dos pés, sentou-se e despiu-se, atirando a roupa para o chão. Em seguida, fechou o gás e enfiou entre os lençóis, tremendo, porque estava desnudo. Dormia sempre despido. O seu último pijama fora dado como incapaz, mais de um ano atrás.
O relógio lá em baixo badalou as onze horas. À medida que o frio dos lençóis se extinguia, o espírito de Gordon regressava ao poema que iniciara naquela tarde, e repetiu a única estância completada:
Vivamente, o vento ameaçador varre
Os flexíveis choupos, recém-despidos,
E os tubos escuros das chaminés
Inclinam-se para baixo; fustigados por chicotes de ar.
Cartazes rasgados agitam-se.
As palavras octossilábicas oscilavam-lhe na mente.