Sangue Azul - Cap. 21: 9 Pág. 236 / 287

qualquer culpa e mostrava-se muito relutante em atribuir alguma ao marido, mas Anne pôde deduzir que os seus rendimentos nunca tinham estado à altura do seu estilo de vida e que, desde o princípio, houvera uma grande quantidade de vário e conjunto esbanjamento. Pelo que a mulher dizia dele, pôde inferir que Mr. Smith tinha sido um homem de sentimentos afectuosos, boa índole, hábitos descuidados e entendimento não muito forte, muito mais afável do que o amigo e muito diferente dele - guiado, e porventura desprezado, por ele. Mr. Elliot, tendo ascendido mercê do seu casamento a grande desafogo, predisposto para a satisfação de todos os prazeres e vaidades a que podia ter acesso sem se comprometer (pois apesar de todo o seu amor à boa vida tornara-se um homem prudente) e começando a ser rico quando o seu amigo devia ter-se descoberto pobre, parecia não ter tido qualquer preocupação com o estado provável das finanças desse amigo, mas, pelo contrário, ter instigado e encorajado despesas que só poderiam ter como resultado a ruína. E os Smith tinham ficado, realmente, arruinados.

O marido morrera mesmo a tempo de ser poupado ao conhecimento integral desse descalabro. Eles tinham anteriormente conhecido embaraços que os haviam levado a pôr à prova a amizade dos amigos, e a verificarem que era melhor não porem à prova a de Mr. Elliot, mas só depois da morte de Mr. Smith se tornou plenamente conhecido o estado deplorável dos seus negócios. Com uma confiança na consideração de Mr. Elliot mais meritória para os seus sentimentos do que para o seu discernimento, Mr. Smith nomeara-o seu executor testamentário. Mas Mr. Elliot não agiu, e as dificuldades e aflições que esta recusa causou a Mrs. Smith, além dos sofrimentos inevitáveis decorrentes da sua situação, tinham sido tais que não podiam ser relatados sem angústia espiritual, nem escutados sem uma indignação correspondente.





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