A revolução que esse instante tinha desencadeado em Anne era quase inexprimível. A carta, com um endereço praticamente ilegível - para «Miss A. E.» - era, sem dúvida, a que ele dobrara com tanta pressa. Enquanto supunham que estava a escrever apenas ao capitão Benwick, ele estivera também a escrever-lhe a ela! Do conteúdo daquela carta dependia tudo quanto este mundo podia fazer por Anne! Tudo era possível, tudo podia ser arrostado menos a incerteza. Mrs. Musgrove tinha umas pequenas coisas que fazer na sua própria mesa, e Anne, deixando-se cair na cadeira que ele ocupara, sucedendo-lhe no próprio lugar onde ele se debruçara e escrevera, devorou com os olhos as seguintes palavras:
«Não posso continuar a ouvir em silêncio. Tenho de falar consigo pelos meios que estão ao meu alcance. Trespassa-me a alma. Metade de mim é angústia, outra metade é esperança. Não me diga que é demasiado tarde, que sentimentos tão preciosos morreram para sempre. Ofereço-me de novo a si com um coração que ainda é mais seu do que antes, quando quase o despedaçou há oito anos e meio. Não ouse dizer que o homem esquece mais depressa do que a mulher, que o amor dele morre mais cedo. Eu não amei mais ninguém além de si. Posso ter sido injusto, fui fraco e despeitado, mas inconstante, nunca. Só a Anne me trouxe a Bath. Só por si penso e planeio. Não viu isso? É possível que não tenha compreendido os meus desejos? Eu não teria esperado nem mesmo estes dez dias se pudesse ter lido os seus sentimentos, como penso que deve ter lido os meus.