Sangue Azul - Cap. 5: 5 Pág. 39 / 287

Lady Russell sentia profundamente aquela separação da família. A respeitabilidade deles era-lhe tão cara quanto a sua própria, e o hábito tornara preciosa a comunicação diária. Era doloroso olhar para as suas terras desertas, e pior ainda imaginar as novas pessoas que as ocupariam. Para fugir à solidão e à melancolia de uma aldeia tão mudada, e para estar longe quando o almirante e Mrs. Croft chegassem, decidira que a sua própria ausência de casa começaria quando tivesse de prescindir da companhia de Anne. De acordo com tal propósito, partiram juntas e Anne foi deixada no chalé de Uppercross, na primeira fase da viagem de Lady Russell.

Uppercross era uma aldeia de dimensões moderadas, que poucos anos antes correspondera inteiramente ao antigo estilo inglês, com apenas duas casas de aparência superior às dos pequenos proprietários e trabalhadores - a residência do senhor rural, sólida e não modernizada, com os seus muros altos, grandes portões e árvores antigas, e o presbitério, severo e compacto, envolto pelo seu próprio jardim bem cuidado, com uma trepadeira e uma pereira a subirem à volta das janelas. Mas, aquando do casamento do filho do senhor, recebera a melhoria de uma casa de lavoura elevada à categoria de chalé, para sua residência. E o chalé de Uppercross, com a sua varanda, portas-janelas e outros ornamentos, era tão capaz de prender o olhar dos viajantes como o aspecto e o local mais sólidos e eminentes da Casa Grande, cerca de meio quilómetro mais adiante.

Anne estivera lá muitas vezes. Conhecia os costumes de Uppercross tão bem como os de Kellynch. As duas famílias encontravam-se com tanta frequência, estavam tão habituadas a visitar a casa uma da outra a todas as horas, que foi de certo modo uma surpresa para ela encontrar Mary sozinha; mas, estando sozinha, estar indisposta e desanimada era quase uma coisa de se esperar.





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