Embora mais bem dotada do que a irmã mais velha, Mary não tinha nem a compreensão nem o temperamento de Anne. Quando se sentia bem e feliz, e devidamente acompanhada, tinha um grande bom humor e excelente feitio; mas bastava uma indisposição para a desalentar por completo; não sabia lidar com a solidão e, como herdara uma parte considerável da presunção dos Elliot, tinha uma grande tendência para acrescentar a todas as outras aflições a de se imaginar desprezada e maltratada. Fisicamente, era inferior a ambas as irmãs e, mesmo no apogeu do seu viço, não ultrapassara a dignidade de ser considerada «uma moça vistosa». Encontrava-se deitada no sofá desbotado da bonita saleta, cuja mobília outrora elegante fora ficando gradualmente gasta devido às arremetidas de quatro estios e duas crianças. Ao ver Anne aparecer, saudou-a assim:
- Chegaste, finalmente! Já começava a pensar que nunca mais te veria. Estou tão doente que mal posso falar, e não vi ninguém toda a manhã!
- Lamento encontrar-te tão indisposta - respondeu Anne. Na quinta-feira enviaste-me notícias tuas tão boas!
- Sim, eu tentei não me queixar, como sempre faço, mas estava longe de me sentir bem, nessa altura, e acho que nunca na minha vida estive tão mal como tenho estado toda esta manhã. Nada em condições para ser deixada só, garanto-te. Imagina que me dava de súbito alguma coisa terrível e não conseguia tocar a campainha! Com que então, Lady Russell não se quis apear. Não creio que tenha posto os pés nesta casa três vezes ao todo, este Verão.
Anne disse o que era conveniente, nas circunstâncias, e depois perguntou pelo cunhado.
- Oh, o Charles anda a caçar. Não o vejo desde as sete horas. Teimou em ir, apesar de eu lhe dizer como me sentia mal.
Prometeu não se demorar muito, mas é quase uma hora e ainda não voltou.
