Algumas, de viverem dum passado de fogo, parecem mirradas, outras procuram minguar, extinguir-se, não ocupar lugar na terra. E entretanto as mulheres vão cantando na mesma toada de catástrofe, que a noite traga, como farrapos de sonho espezinhado...
Todas as noites o Gabiru lá vai sentar-se a um canto a cismar. Olha a Mouca sem palavra e sonha. Conhecem-no os ladrões e os soldados, e elas, vendo-o entrar, esgrouviado e triste, exclamam:
– Lá vem o enguiço!
A Mouca às risadas diz:
– Cá temos o enguiço!...
Mas em vão! Ele, com as enormes pernas dobradas, alheado, sem ver nem ouvir, pensa num amor ideal e monologa baixinho, entre as mulheres, os ladrões e os soldados:
«O que eu sonho! Eu que sou tão tímido, ponho-me a falar e a cismar... E tanto cismo!... Troco tudo...
Como é que tu gostas de mim, que nem te sei sorrir?
Ando a inventar uma língua nova, que seja como a das fontes e a das árvores, quando desponta março, para te exprimir o que sinto. Todas as palavras me parecem mirradas e servidas.
Olha, diz-me: chamas-te Maria, não é?» E entretanto os ladrões e as mulheres conversam:
– Tu não te calarás, estupor!
E uma tísica, magra, só com a pele e o osso, explica:
– Uma mulher da vida... Que estão vocês a dizer das mulheres da vida? Eu inda queria ver... Quando tu não tens pão, quem to dá?
E o ladrão responde:
– És tu.