Em todo o caso, se a imoralidade existe, deve ser bem diferente de tudo o que se tem sonhado.
Ser despedaçado, oprimido, calcado, torna quase sempre o homem grande, porque abala e acorda vozes adormecidas.
Compreendo o materialista sincero, o idealista sincero. Num predomina a nuvem, no outro a terra. Tudo o que é verdadeiro, arraigado e fundo, é belo – até o crime.
Não importa saber donde nasceu a ideia da imortalidade, o que importa é saber se a imortalidade existe. Todos a sentem, até os mais materialistas, todos sabem que ela brilha no fundo do nosso ser. Podem-na abalar, abafar, com teorias, palavras, explicações mesquinhas, o que não podem é arrancá-la. É como certas árvores que, deitadas abaixo, deixam sempre profundas e inabaláveis raízes no solo. Para as extinguir seria necessário tornar estéril a terra.
Cada homem trá-la consigo como uma certeza ou como uma aspiração... Ela remexe sob todas as cinzas.
– Mas que imortalidade?
Tomo tudo a sério, até as coisas sem importância – outra razão para ser desgraçado.
E quando é que eu cumpro o meu destino? – dirás.
Interroga-te.
Se as árvores não fossem necessárias, existiriam árvores? Se os criminosos não fossem necessários, existiriam porventura criminosos?
A educação que nos dão, o melhor que há a fazer é esquecê-la. E esquece-se porque ela nada tem com a vida, é uma coisa à parte. A que adquirimos à custa de nervos, de sangue, de suor, a que se aprende na peleja, essa acompanha-nos até ao túmulo. É a verdadeira.
O homem procura sempre uma filosofia onde caiba o seu temperamento, os seus erros – e até os seus crimes.
Se não existe, inventa-a.
Acho que, ao contrário do que se diz, não sou amigo de ninguém senão nos primeiros tempos.