As memórias de Sherlock Holmes - Cap. 2: A Face Amarela Pág. 43 / 274

»Nesse dia eu deveria ter ido à cidade, mas estava demasiado perturbado para me concentrar em assuntos de negócios. A minha mulher parecia estar tão perturbada quanto eu, e eu podia perceber pelos breves olhares interrogativos que me atirava constantemente que ela percebia que eu não tinha acreditado na sua história. Mal trocamos uma palavra durante o pequeno-almoço e, imediatamente a seguir, saí para dar uma volta de forma a pensar em tudo aquilo com a ajuda do ar fresco da manhã.

»Fui caminhando até ao Palácio de Cristal, passei uma hora naquelas terras e, à uma da tarde, estava de volta em Norbury. Acontece que o meu trajecto levou-me a passar pela propriedade vizinha; parei um instante para observar a janela e verificar se conseguia ter um vislumbre do estranho rosto que tinha olhado para mim no dia anterior. Enquanto eu lá estava, imagine só a minha surpresa, Sr. Holmes, a porta abriu-se de repente e a minha esposa saiu de lá.

»Fiquei mudo de espanto ao vê-la, mas as minhas emoções não eram nada comparadas com as que o seu rosto mostrava quando os nossos olhos se cruzaram. Ela pareceu, por um instante, querer recuar para dentro da casa novamente, e então, vendo quão inútil a sua ocultação seria, ela avançou, com o rosto pálido e os olhos assustados, que desmentiam o sorriso em seus lábios. “Ah, Jack” – disse ela – vim aqui apenas saber se posso ser útil aos nossos novos vizinhos. Porque me olhas assim, Jack? Não estás zangado comigo, pois não?” “Então” – disse eu – “é aqui que tu vens durante a noite?” “O que é que queres dizer com isso?” – exclamou ela. “Vieste aqui. Tenho a certeza. Mas quem é esta gente, que tu visitas a essas horas?” “Eu nunca estive aqui antes” – disse ela.





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