O Mundo Perdido - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 162 / 286

Todos nós dormíamos a volta da fogueira, quase extinta, quando fomos despertados ou, antes, arrancados brutalmente ao sono por uma sucessão tremenda de gritos de terror e de uivos. Não há sons que possam comparar-se a este concerto ensurdecedor que parecia ser tocado a algumas centenas de metros. Era tão dilacerante para o tímpano como um silvo de locomotiva, mas o silvo emite um som nítido, mecânico, agudo e este ruído era muito mais grave, com vibrações que evocavam irresistivelmente os espasmos da agonia. Colámos as mãos aos ouvidos a fim de deixarmos de escutar aquele apelo que nos arrasava os nervos. Um suor gelado escorreu-me pelo corpo, e o coração sobressaltou-se. Todas as desgraças de uma vida torturada, todos os seus sofrimentos inumeráveis e as suas imensas mágoas pareciam condensadas naquele grito mortal. E depois, uma oitava mais baixa, surgiu e espalhou-se aos sacões uma espécie de riso cavernoso, um grunhido, um cacarejo saldo de uma garganta, que serviu de acompanhamento grotesco ao UIVO. Este dueto prolongou-se durante três ou quatro minutos, enquanto os pássaros assustados se agitavam nas folhagens. Terminou tão bruscamente como principiara. Estávamos horrificados e permanecemos imóveis até Lorde John ter lançado ao lume alguns raminhos; a sua luz crepitante iluminou as caras ansiosas dos meus companheiros, assim como os grossos ramos que nos abrigavam.

- O que era? - murmurei.

- Sabê-lo-emos esta manhã - respondeu Lorde John. - Estava muito próximo.





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