Os meus pensamentos tinham-me conduzido até ali, e ia romper um silêncio longo e penoso quando dois olhos negros severos me fixaram: vi então o rosto altivo que eu amava contrair-se sob o efeito de uma reprovação sorridente.
- Julgo adivinhar o que está prestes a propor-me, Ned - disse-me ela. - Espero que não faça nada porque o actual estado de coisas agrada-me mais.
Aproximei a minha cadeira.
- Vejamos, como sabe o que eu estava prestes a propor-lhe? - perguntei com uma admiração ingénua.
- Como se as mulheres não soubessem sempre! Uma mulher deixa-se alguma vez apanhar desprevenida? Mas, ó Ned, a nossa amizade foi tão boa e agradável! Seria realmente pena estragá-la! Não acha maravilhoso que um jovem e uma rapariga possam falar tão livremente como nós o fizemos?
- Talvez, Gladys. Mas, compreende, também posso falar muito livremente com... com um chefe de estação!...
Ainda pergunto a mim próprio porque este digno funcionário se introduziu no nosso debate, mas a sua ingerência provocou uma dupla gargalhada.
- ...e isso não me satisfaz de modo algum - insisti. - Quero os seus braços à minha volta, a sua cabeça no meu peito e, ó Gladys, quero...