Como ela viu que eu ia passar à demonstração de alguns dos' meus anseios, levantou-se da cadeira.
- Estragou tudo, Ned! - disse-me. - Enquanto essa espécie de coisa não intervém, tudo é tão belo, tão normal!... Que pena! Porque não conserva o sangue-frio?
- Essa espécie de coisa não foi inventada por mim - argumentei. - É a natureza. É o amor.
- Ora bem, se nos amássemos um ao outro, seria diferente.
Mas eu nunca amei!
- Mas deve amar! Com a sua beleza, a sua alma!... Gladys, você é feita para o amor! Tem de amar!
- Ainda é preciso esperar que o amor chegue...
- Mas porque é que não pode amar-me, Gladys? É a minha cara que lhe desagrada, ou quê?
Ela descontraiu-se um pouco. Estendeu a mão (com que gracioso movimento!... ) e apoiou-se na minha nuca para contemplar com um sorriso pensativo o rosto que ergui ansiosamente para ela.
- Não, não é isso - disse por fim. - Você não é naturalmente vaidoso e, assim, posso certificar-lhe com toda a segurança que não é isso. É... mais profundo!
- Então, o meu carácter?
Ela sacudiu a cabeça severamente, afirmativamente.- Que posso fazer - insisti - para corrigi-lo? Sente-se e falemos. Não, a sério, ficarei quieto desde que se sente.
Encarou-me com uma desconfiança surpreendente que me trespassou o coração: ah, aprouvesse ao céu que ela permanecesse no tom da confidência! (Como tudo isto parece grosseiro, mesmo bestial, quando se escreve o preto no branco! Mas talvez seja um sentimento só meu?... - Finalmente sentou-se.
- Agora diga o que é que não lhe agrada em mim.
- Estou apaixonada por outra pessoa - respondeu-me.