O Mundo Perdido - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 71 / 286

Dominando-os com a sua majestade incontestável, o raríssimo rinoceronte branco do enclave de Lado deixava pender uma beiçada desdenhosa.

No centro do quente tapete vermelho havia uma mesa Luís XV preta e ouro, maravilhosamente da época, mas - ó sacrilégio! - suja com marcas de copos e queimadelas de cigarros. Tinha em cima uma bandeja de prata guarnecida com bolos destinados aos fumadores assim como um estojo para licores. O meu anfitrião começou por encher dois copos. Depois indicou-me uma poltrona, pôs ao meu alcance o refresco que me tinha preparado e ofereceu-me um comprido havana louro. Sentou-se à minha frente para me encarar demoradamente, fixamente, com olhos estranhos, cintilantes, atrevidos, olhos cuja fria luz azul lembrava a água de um lago de montanha.

Através da bruma fina do meu fumo, observei paralelamente os pormenores de uma fisionomia que numerosas fotografias já me tinham tornado familiar: o nariz arqueado, as faces cavadas, os cabelos escuros a puxar para o ruivo, o alto da cabeça desguamecido, o bigode encaracolado e a pequena pêra agressiva a terminar um queixo voluntarioso. Havia nele algo de Napoleão III e de Dom Quixote, mas também algo especial dos fidalgos rústicos da Inglaterra: aquele ar aberto, esperto e vivo que possui o apaixonado por cães e cavalos. A sua pele estava tisnada pelo sol e pelo vento. Tinha sobrancelhas muito espessas que lhe caíam para a vista: o olhar, naturalmente frio, adquiria por isso um aspecto de ferocidade, que uma arcada supraciliar acusada ainda mais reforçava.





Os capítulos deste livro