O Mundo Perdido - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 86 / 286

As proezas do Chefe Vermelho, como lhe chamavam, haviam entrado nas lendas, mas a realidade dos factos, tanto, quanto pude aperceber-me, não era menos surpreendente ..

Os factos eram estes: há alguns anos, Lorde John Roxton tinha-se encontrado na terra de ninguém situada entre as fronteiras mal definidas do Peru, do Brasil e da Colômbia. Nesta vasta região a árvore-da-borracha dá-se bem e tornou-se, como no Congo, uma maldição para os indígenas, constrangidos a trabalhos forçados que poderiam comparar-se com os que os Espanhóis organizaram nas antigas minas de prata de Darién. Um punhado de mestiços infames tinha o país na mão, armava os índios que lhes eram afectos e submetia o resto da população a uma dura escravatura. Estes mestiços não recuavam diante de nada, nem sequer das torturas mais desumanas, para obrigarem os indígenas a recolher a borracha, que descia em seguida o rio até ao Pará. Lorde John Roxton recolheu as queixas das vítimas de que se fez porta-voz: em resposta apenas obteve ameaças e insultos. Foi então que declarou formalmente a guerra a Pedro Lopez, o chefe dos traficantes de escravos; alistou escravos que tinham fugido, armou-os e conduziu uma série de operações que terminaram com a morte de Pedro Lopez, que matou com as suas próprias mãos, e pelo fim do sistema que o celerado representava.

Nada de admirar, por conseguinte, que este homem de cabelos ruivos voz suave e de modos simples suscitasse um vivo interesse nas margens do grande rio sul-americano; o sentimento por ele inspirados eram naturalmente de duas espécies: a gratidão dos indígenas e o ressentimento dos que desejavam explorá-los.





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