Um Estudo em Escarlate - Cap. 13: 6 - Uma Continuação das Memórias do Dr. John Watson Pág. 115 / 127

Os meus planos já estavam concebidos. Não há prazer na vingança a não ser que o infractor tenha tempo de tomar consciência de quem é a pessoa que o ataca e porque caiu sobre ele o castigo. Tinha concebido o meu plano de maneira que tivesse oportunidade de obrigar o homem que me enganara a compreender que o seu antigo pecado o apanhara. Aconteceu que alguns dias antes um cavalheiro, que fora encarregado de ver umas casas na Brixton Road, tinha deixado cair a chave de uma delas no meu cabriolé. Foi reclamada nessa mesma noite e devolvida, mas nesse espaço de tempo eu tinha tirado um molde e mandado fazer um duplicado. Assim, tinha acesso pelo menos a um lugar nesta enorme cidade onde esperava não ser incomodado. Como havia de levar Drebber àquela casa era naquela altura o problema que tive de resolver.

»Ele desceu a rua e entrou num ou dois bares, ficando quase meia hora no último. Quando saiu, caminhava aos ziguezagues e era evidente que estava embriagado. Estava um cabriolé mesmo à minha frente, e ele chamou-o. Segui-o então tão de perto que o focinho do meu cavalo ia a um metro do cocheiro durante todo o percurso. Passámos a toda a pressa a Ponte de Waterloo e várias ruas quando, para meu espanto, nos encontrámos de novo na ladeira onde ele se hospedara. Não podia imaginar qual era a intenção dele ao voltar ali, mas continuei e parei o cabriolé a cem metros da casa. Ele entrou e o cabriolé partiu. Por favor, dê-me um copo de água. A minha boca está seca de tanto falar.

Dei-lhe o copo de água e ele bebeu-a.

- Está melhor - disse ele. - Bem, esperei um quarto de hora ou mais, quando, de repente, se ouviu um ruído como se estivessem pessoas a lutar dentro de casa. Logo a seguir a porta abriu-se e apareceram dois homens, um dos quais era Drebber e o outro um rapaz que eu nunca tinha visto. Este indivíduo agarrava Drebber pela gola e, quando chegaram ao cimo dos degraus, empurrou-o e deu-lhe um pontapé que quase o atirou para o outro lado da rua. «Seu cão!», gritou ele, ameaçando-o com um pau.





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