»«Seu cão!», disse eu. «Persegui-vos desde Salt Lake City a São Petersburgo, e escaparam-me sempre. Agora as viagens chegaram finalmente ao seu término, para vocês os dois, ou que eu nunca mais veja o nascer do Sol.» Ele afastou-se ainda mais enquanto eu falava, e pude ver no seu rosto que pensava que eu estava louco. Naquela altura estava mesmo. As palpitações nas minhas têmporas pareciam martelos de forja; penso que teria tido algum ataque se o sangue não tivesse jorrado do nariz, o que me aliviou.
»«Agora, que pensas de Lucy Ferrier?», gritei, fechando a porta à chave e sacudindo-a à frente da cara dele. «O castigo tem vindo a aproximar-se lentamente, mas apanhou-te finalmente.» Vi os lábios covardes a tremerem enquanto falava. Ele teria implorado que lhe poupasse a vida, mas sabia que era inútil.
»«Seria capaz de me matar?» disse ele a gaguejar. »«Não há assassínio», respondi. «Quem fala em matar um cão raivoso? Que compaixão tiveste da minha amada, quando a afastaste do pai assassinado e a levaste para o teu maldito e indigno harém?»
»«Não fui eu que matei o pai dela», gritou ele.
»«Mas foste tu que lhe destroçaste o coração inocente», gritei, atirando a caixa para a frente dele. «Deixemos que Deus sentencie entre nós os dois. Escolhe e come. A morte está num e a vida noutro. Eu comerei o que deixares. Vejamos se há justiça na terra ou se somos regidos pela sorte.»
»Aninhou-se a gritar desenfreadamente, a implorar misericórdia, mas tirei a minha faca e encostei-lha à garganta até me obedecer. Depois engoli o outro, e ficámos a olhar-nos em silêncio durante um minuto ou mais, à espera de ver qual ia viver e qual ia morrer. Nunca esquecerei a expressão que surgiu no seu rosto, quando as primeiras dores lhe disseram que o veneno estava no seu organismo.