»Ao entrar em casa, esta segunda ilação confirmou-se. O homem bem calçado jazia à minha frente. Então, o alto perpetrara o crime de morte, se de assassínio se tratava. Não havia ferimentos no corpo do morto, mas a expressão agitada no seu rosto garantiu-me que ele previra o seu destino antes de ser surpreendido. Os homens que morrem de doenças cardíacas, ou de qualquer causa natural, nunca apresentam perturbação no rosto. Tendo cheirado os lábios do morto, descobri um odor ligeiramente acre e cheguei à conclusão de que ele fora forçado a ingerir veneno. Uma vez mais demonstrei que ele fora obrigado a ingeri-lo por causa do ódio e do medo estampados no seu rosto. Pelo método de exclusão, tinha chegado a este resultado, porque nenhuma outra hipótese ia ao encontro dos factos. Não pense que era uma opinião sem precedentes. A administração violenta de um veneno não é de modo nenhum uma novidade nos anais do crime. Os casos de Dolsky em Odessa e de Leturier em Montpellier vêm logo ao espírito de qualquer toxicólogo.
»E agora surgia o grande problema relacionado com o móbil. O roubo não fora o objectivo do assassínio, porque não tiraram nada. Então, seria a política, ou seria uma mulher? Este era o problema com que me defrontava. Sentia-me indeciso entre a primeira e a última hipótese. Os assassinos políticos estão desertos por fazer o trabalho e por se porem a salvo. Este assassínio, pelo contrário, fora cometido deliberadamente, e o autor do crime deixara pegadas espalhadas pela sala, mostrando que estivera lá durante todo o tempo.