- Já são oito horas - disse, olhando rapidamente para o meu relógio.
- Sim. Provavelmente estará aqui dentro de alguns minutos. Abra um pouco a porta. Chega. Agora ponha a chave no lado de dentro. Obrigado! Este é um livro antigo e estranho que comprei ontem num quiosque - De Jure inter Gentes - publicado em latim, em Lieja, na Baixa Escócia, em 1642. A cabeça de Charles ainda estava bem segura aos ombros quando este pequeno volume de capa castanha foi impresso.
- Quem é o impressor?
- Philippe de Croy, quem quer que pudesse ter sido. Na folha de rosto, numa tinta muito esbatida, está escrito «Ex-libris Gulielmi Whyte». Gostava de saber quem foi William Whyte. Suponho que algum advogado enfatuado do século XVII. O seu estilo tem uma deformação jurídica. Penso que vem aí o nosso homem.
Quando disse isto tocaram com força à campainha.
Sherlock Holmes levantou-se devagar e mudou a cadeira na direcção da porta. Ouvimos a criada a atravessar o vestíbulo e o clique agudo do trinco quando ela a abriu.
- O Dr. Watson vive aqui? - perguntou uma voz clara, mas bastante áspera. Não conseguimos ouvir a resposta da criada, mas a porta fechou-se, e alguém começou a subir as escadas. O ruído dos passos era irregular e arrastado. Uma expressão de surpresa perpassou no rosto do meu companheiro quando o ouviu. Atravessou lentamente o corredor e bateram ao de leve na porta.
- Entre - gritei.
À minha ordem, em vez do homem furioso que esperávamos, entrou no apartamento uma mulher idosa e muito enrugada. Pareceu aturdida com a claridade súbita e brilhante e, depois de fazer uma vénia, ficou a olhar para nós, a pestanejar com os olhos lacrimosos e a mexer nos bolsos com dedos nervosos e trémulos. Lancei um olhar ao meu companheiro, e o seu rosto tinha uma expressão tão desconsolada que foi o suficiente para eu me dominar.
A velha, de pele murcha e rugosa, tirou um jornal da noite e apontou para o anúncio.