Cândido - Cap. 26: CAPÍTULO XXVI - De uma ceia que Cândido e Martin tiveram com seis estrangeiros e quem eles eram Pág. 102 / 118

O terceiro disse:

- Sou Carlos Eduardo, rei de Inglaterra. Meu pai abdicou em mim os seus direitos e eu lutei para os sustentar. Arrancaram o coração a oitocentos dos meus partidários, depois de previamente os terem esbofeteado, e eu fui aprisionado. Vou a Roma visitar meu pai e meu avô, tendo aproveitado a oportunidade para passar o Carnaval em Veneza.

O quarto tomou então a palavra e disse:

- Eu sou o rei dos Polacos. A sorte das armas privou-me dos meus Estados hereditários e o meu pai sofreu os mesmos reveses. Resigno-me com os decretos da Providência, como o sultão Achmet, o imperador Ivã e o rei Carlos Eduardo, a quem Deus guarde, e vim passar o Carnaval a Veneza.

O quinto disse:

- Sou também rei dos Polacos e por duas vezes fui privado do meu reino, mas a Providência concedeu-me um outro Estado, no qual tenho prestado mais benefícios do que todos os reis dos Sarmatas juntos têm prestado nas margens do Vístula. Resigno-me também com a Providência e vim passar o Carnaval a Veneza.

Restava falar o sexto monarca.

- Meus senhores - disse ele -, não sou uma personagem tão poderosa como vós, mas fui, enfim, rei como qualquer outro. Sou Teodoro e fui eleito rei da Córsega. Trataram-me por «Vossa Majestade» e hoje a custo me tratam por «Senhor». Cheguei a mandar cunhar moeda e aqui estou sem um tostão. Tive dois secretários de Estado e agora apenas possuo um criado. Sentei-me num trono e dormi já durante muito tempo sobre palha num prisão de Londres. E estou com receio de ser tratado aqui da mesma forma, embora tenha vindo como Vossas Majestades passar o Carnaval a Veneza.

Os outros cinco reis escutaram este discurso com nobre compaixão. Cada um deles deu vinte cequins ao rei Teodoro, para vestuário e roupa branca, e Cândido deu-lhe um diamante de dois mil cequins.





Os capítulos deste livro

CAPÍTULO I - Como Cândido foi educado num belo castelo e porque dele foi expulso 1 CAPÍTULO II - O que aconteceu a Cândido entre os Búlgaros 4 CAPÍTULO III - Como Cândido se livrou dos Búlgaros e o que lhe aconteceu 7 CAPÍTULO IV - Como Cândido encontrou o seu antigo mestre de filosofia, o Dr. Pangloss, e o que lhe aconteceu 10 CAPÍTULO V - Tempestade, naufrágio, tremor de terra, e o que aconteceu ao Dr. Pangloss, a Cândido e ao anabaptista Tiago 14 CAPÍTULO VI - Como se fez um belo auto-de-fé para impedir os tremores de terra e como Cândido foi açoitado 18 CAPÍTULO VII - Como uma velha cuidou de Cândido e ele encontrou aquela que amava 20 CAPÍTULO VIII - História de Cunegundes 23 CAPÍTULO IX - O que aconteceu a Cunegundes, a Cândido, ao inquisidor-mor e ao judeu 27 CAPÍTULO X - Em que angústia Cândido, Cunegundes e a velha chegam a Cádis e como embarcaram 29 CAPÍTULO XI - História da velha 32 CAPÍTULO XII - Continuação da história das desgraças da velha 36 CAPÍTULO XIII - Como Cândido foi obrigado a separar-se da bela Cunegundes e da velha 40 CAPÍTULO XIV - Como Cândido e Cacambo foram recebidos entre os jesuítas do Paraguai 43 CAPÍTULO XV - Como Cândido matou o irmão da sua querida Cunegundes 47 CAPÍTULO XVI - O que aconteceu aos dois viajantes com duas raparigas, dois macacos e os selvagens chamados Orelhões 50 CAPÍTULO XVII - Chegada de Cândido e do seu criado ao país do Eldorado e o que aí Viram 54 CAPÍTULO XVIII - O que viram no país do Eldorado 58 CAPÍTULO XIX - O que lhes aconteceu em Suriname e como Cândido conheceu Martin 64 CAPÍTULO XX - O que aconteceu no mar a Cândido e a Martin 70 CAPÍTULO XXI - Cândido e Martin aproximam-se das costas de França e filosofam 73 CAPÍTULO XXII - O que aconteceu em França a Cândido e a Martin 75 CAPÍTULO XXIII - Cândido e Martin dirigem-se para as costas de Inglaterra e o que por lá vêem 87 CAPÍTULO XXIV - De Paquette e do Irmão Giroflée 89 CAPÍTULO XXV - Visita ao Sr. Pococuranté, nobre veneziano 94 CAPÍTULO XXVI - De uma ceia que Cândido e Martin tiveram com seis estrangeiros e quem eles eram 100 CAPÍTULO XXVII - Viagem de Cândido para Constantinopla 104 CAPÍTULO XXVIII - O que aconteceu a Cândido, Cunegundes, Pangloss, Martin, etc. 108 CAPÍTULO XXIX - Como Cândido reencontrou Cunegundes e a velha 111 CAPÍTULO XXX – Conclusão 113