Cândido - Cap. 16: CAPÍTULO XVI - O que aconteceu aos dois viajantes com duas raparigas, dois macacos e os selvagens chamados Orelhões Pág. 53 / 118

Quanto a mim, nasci no vosso pais e o cavalheiro que aqui vedes é o meu amo, que, longe de ser um jesuíta, acabou de matar um jesuíta, cujo vestuário enverga. Eis a razão do vosso engano. Para comprovardes o que eu disse, pegai neste uniforme e levai-o ao posto fronteiriço do reino dos padres e informai-vos se o meu amo matou ou não um oficial jesuíta. Não precisareis de muito tempo para isso e podeis sempre acabar por nos comer, se verificardes que vos menti. Mas se vos tiver dito a verdade, conheceis muito bem os princípios do direito público, os costumes e as leis, para nos libertardes imediatamente.

Os Orelhões acharam este discurso muito razoável e delegaram em dois dos seus notáveis a missão de irem informar-se da verdade. Os dois delegados cumpriram a sua tarefa diligentemente e em breve regressaram com boas notícias. Os Orelhões libertaram os dois prisioneiros, dispensaram-lhes todas as atenções, ofereceram-lhes mulheres, deram-lhes refrescos e conduziram-nos até aos confins dos seus Estados, gritando com entusiasmo:

- Não é jesuíta! Não é jesuíta!

Cândido não se cansava de admirar o caso da sua libertação.

- Que povo! Que homens! Que costumes! Se eu não tivesse tido a felicidade de trespassar com uma espadeirada o irmão da menina Cunegundes, era comido sem remissão. Mas, afinal, a natureza pura é boa, pois esta gente, em vez de me ter comido, excedeu-se em amabilidades por eu não ser jesuíta.





Os capítulos deste livro

CAPÍTULO I - Como Cândido foi educado num belo castelo e porque dele foi expulso 1 CAPÍTULO II - O que aconteceu a Cândido entre os Búlgaros 4 CAPÍTULO III - Como Cândido se livrou dos Búlgaros e o que lhe aconteceu 7 CAPÍTULO IV - Como Cândido encontrou o seu antigo mestre de filosofia, o Dr. Pangloss, e o que lhe aconteceu 10 CAPÍTULO V - Tempestade, naufrágio, tremor de terra, e o que aconteceu ao Dr. Pangloss, a Cândido e ao anabaptista Tiago 14 CAPÍTULO VI - Como se fez um belo auto-de-fé para impedir os tremores de terra e como Cândido foi açoitado 18 CAPÍTULO VII - Como uma velha cuidou de Cândido e ele encontrou aquela que amava 20 CAPÍTULO VIII - História de Cunegundes 23 CAPÍTULO IX - O que aconteceu a Cunegundes, a Cândido, ao inquisidor-mor e ao judeu 27 CAPÍTULO X - Em que angústia Cândido, Cunegundes e a velha chegam a Cádis e como embarcaram 29 CAPÍTULO XI - História da velha 32 CAPÍTULO XII - Continuação da história das desgraças da velha 36 CAPÍTULO XIII - Como Cândido foi obrigado a separar-se da bela Cunegundes e da velha 40 CAPÍTULO XIV - Como Cândido e Cacambo foram recebidos entre os jesuítas do Paraguai 43 CAPÍTULO XV - Como Cândido matou o irmão da sua querida Cunegundes 47 CAPÍTULO XVI - O que aconteceu aos dois viajantes com duas raparigas, dois macacos e os selvagens chamados Orelhões 50 CAPÍTULO XVII - Chegada de Cândido e do seu criado ao país do Eldorado e o que aí Viram 54 CAPÍTULO XVIII - O que viram no país do Eldorado 58 CAPÍTULO XIX - O que lhes aconteceu em Suriname e como Cândido conheceu Martin 64 CAPÍTULO XX - O que aconteceu no mar a Cândido e a Martin 70 CAPÍTULO XXI - Cândido e Martin aproximam-se das costas de França e filosofam 73 CAPÍTULO XXII - O que aconteceu em França a Cândido e a Martin 75 CAPÍTULO XXIII - Cândido e Martin dirigem-se para as costas de Inglaterra e o que por lá vêem 87 CAPÍTULO XXIV - De Paquette e do Irmão Giroflée 89 CAPÍTULO XXV - Visita ao Sr. Pococuranté, nobre veneziano 94 CAPÍTULO XXVI - De uma ceia que Cândido e Martin tiveram com seis estrangeiros e quem eles eram 100 CAPÍTULO XXVII - Viagem de Cândido para Constantinopla 104 CAPÍTULO XXVIII - O que aconteceu a Cândido, Cunegundes, Pangloss, Martin, etc. 108 CAPÍTULO XXIX - Como Cândido reencontrou Cunegundes e a velha 111 CAPÍTULO XXX – Conclusão 113