Quanto a mim, nasci no vosso pais e o cavalheiro que aqui vedes é o meu amo, que, longe de ser um jesuíta, acabou de matar um jesuíta, cujo vestuário enverga. Eis a razão do vosso engano. Para comprovardes o que eu disse, pegai neste uniforme e levai-o ao posto fronteiriço do reino dos padres e informai-vos se o meu amo matou ou não um oficial jesuíta. Não precisareis de muito tempo para isso e podeis sempre acabar por nos comer, se verificardes que vos menti. Mas se vos tiver dito a verdade, conheceis muito bem os princípios do direito público, os costumes e as leis, para nos libertardes imediatamente.
Os Orelhões acharam este discurso muito razoável e delegaram em dois dos seus notáveis a missão de irem informar-se da verdade. Os dois delegados cumpriram a sua tarefa diligentemente e em breve regressaram com boas notícias. Os Orelhões libertaram os dois prisioneiros, dispensaram-lhes todas as atenções, ofereceram-lhes mulheres, deram-lhes refrescos e conduziram-nos até aos confins dos seus Estados, gritando com entusiasmo:
- Não é jesuíta! Não é jesuíta!
Cândido não se cansava de admirar o caso da sua libertação.
- Que povo! Que homens! Que costumes! Se eu não tivesse tido a felicidade de trespassar com uma espadeirada o irmão da menina Cunegundes, era comido sem remissão. Mas, afinal, a natureza pura é boa, pois esta gente, em vez de me ter comido, excedeu-se em amabilidades por eu não ser jesuíta.