Cândido - Cap. 22: CAPÍTULO XXII - O que aconteceu em França a Cândido e a Martin Pág. 76 / 118

Cândido recusou-se a isso. As beatas asseguraram-lhe que era uma moda nova, e Cândido respondeu que não era homem de modas. Martin quis deitar o padre pela janela fora e este jurou que não enterraria Cândido. Martin replicou-lhe que o enterraria a ele, se continuasse a importuná-los. A discussão acendeu-se. Martin agarrou-o pelos ombros e expulsou-o com rudeza, o que deu causa a grande escândalo, de que se levantou um auto.

Cândido curou-se e durante a sua convalescença teve boa companhia ao jantar e ao serão. Jogava-se forte. Cândido espantava-se sempre por nunca ter ases, mas Martin não se surpreendia.

Entre os que lhe faziam as honras da cidade, havia um pequeno abade perigordino (natural da região de Périgord, França), que era uma daquelas pessoas solícitas, sempre prontas, sempre serviçais, descaradas, lisonjeiras e acomodatícias, que espreitam a passagem dos estrangeiros, lhes contam a história escandalosa da cidade e lhes oferecem prazeres para todos os gostos. Esse abade levou um dia Cândido e Martin ao teatro. Representava-se uma peça nova. Cândido achou-se no meio de pessoas de muito espírito, o que não o impediu de chorar no meio de cenas muito bem representadas. Um dos faladores que se encontrava ao seu lado disse-lhe num dos intervalos:

- Fazeis mal em chorar, porque a actriz é bastante má, o actor que contracena com ela ainda é pior e a peça ainda é mais horrível do que os actores. A cena passa-se na Arábia e o autor não sabe patavina de árabe e, para mais, é um homem que não acredita nas ideias inatas. Amanhã vos trarei vinte brochuras escritas contra ele.

- Senhor - perguntou Cândido ao abade -, quantas peças de teatro há em França?

- Cinco ou seis mil - respondeu este.





Os capítulos deste livro

CAPÍTULO I - Como Cândido foi educado num belo castelo e porque dele foi expulso 1 CAPÍTULO II - O que aconteceu a Cândido entre os Búlgaros 4 CAPÍTULO III - Como Cândido se livrou dos Búlgaros e o que lhe aconteceu 7 CAPÍTULO IV - Como Cândido encontrou o seu antigo mestre de filosofia, o Dr. Pangloss, e o que lhe aconteceu 10 CAPÍTULO V - Tempestade, naufrágio, tremor de terra, e o que aconteceu ao Dr. Pangloss, a Cândido e ao anabaptista Tiago 14 CAPÍTULO VI - Como se fez um belo auto-de-fé para impedir os tremores de terra e como Cândido foi açoitado 18 CAPÍTULO VII - Como uma velha cuidou de Cândido e ele encontrou aquela que amava 20 CAPÍTULO VIII - História de Cunegundes 23 CAPÍTULO IX - O que aconteceu a Cunegundes, a Cândido, ao inquisidor-mor e ao judeu 27 CAPÍTULO X - Em que angústia Cândido, Cunegundes e a velha chegam a Cádis e como embarcaram 29 CAPÍTULO XI - História da velha 32 CAPÍTULO XII - Continuação da história das desgraças da velha 36 CAPÍTULO XIII - Como Cândido foi obrigado a separar-se da bela Cunegundes e da velha 40 CAPÍTULO XIV - Como Cândido e Cacambo foram recebidos entre os jesuítas do Paraguai 43 CAPÍTULO XV - Como Cândido matou o irmão da sua querida Cunegundes 47 CAPÍTULO XVI - O que aconteceu aos dois viajantes com duas raparigas, dois macacos e os selvagens chamados Orelhões 50 CAPÍTULO XVII - Chegada de Cândido e do seu criado ao país do Eldorado e o que aí Viram 54 CAPÍTULO XVIII - O que viram no país do Eldorado 58 CAPÍTULO XIX - O que lhes aconteceu em Suriname e como Cândido conheceu Martin 64 CAPÍTULO XX - O que aconteceu no mar a Cândido e a Martin 70 CAPÍTULO XXI - Cândido e Martin aproximam-se das costas de França e filosofam 73 CAPÍTULO XXII - O que aconteceu em França a Cândido e a Martin 75 CAPÍTULO XXIII - Cândido e Martin dirigem-se para as costas de Inglaterra e o que por lá vêem 87 CAPÍTULO XXIV - De Paquette e do Irmão Giroflée 89 CAPÍTULO XXV - Visita ao Sr. Pococuranté, nobre veneziano 94 CAPÍTULO XXVI - De uma ceia que Cândido e Martin tiveram com seis estrangeiros e quem eles eram 100 CAPÍTULO XXVII - Viagem de Cândido para Constantinopla 104 CAPÍTULO XXVIII - O que aconteceu a Cândido, Cunegundes, Pangloss, Martin, etc. 108 CAPÍTULO XXIX - Como Cândido reencontrou Cunegundes e a velha 111 CAPÍTULO XXX – Conclusão 113