Eurico, o Presbítero - Cap. 14: Capítulo 14 Pág. 108 / 186

O bispo de Híspalis percebeu que falavam dele e dos outros godos, porque os xeiques haviam volvido para lá os olhos. Erguendo-se então com a taça em punho, exclamou em arábico:

— Ao invencível Abdulaziz; a um dos mais nobres vingadores de Vitiza!

— Alfaqui dos Romanos — respondeu o amir —, a lei do profeta não consente que eu aceite a saudação que atravessou por lábios tintos no licor amaldiçoado por ele.

— E que montam as maldições do teu profeta? — replicou Opas em tom de gracejo. — Devemos nós por isso deixar de saudar o ilustre filho de Musa com o abençoado e generoso vinho dos férteis outeiros da Espanha?

— Infiel!... — interrompeu o amir, em cujos olhos cintilara o despeito. Depois, reportando-se, prosseguiu em tom brando, mas firme, como quem queria ser prontamente obedecido: — Nobres cavaleiros do Gharb, valentes xeiques do Negid, de Berryah e de Al-Moghreb, a noite vai alta, e ao romper da manhã é necessário partir. Que o sono vos desça sobre as pálpebras nas vossas tendas de guerra!

A estas palavras, godos e árabes, alevantando-se, foram saindo da tenda vagarosamente e em silêncio. Só o bispo de Híspalis, apertando a mão de Juliano, murmurou:

— Oh, quanto fel se mistura com o prazer da vingança! Mas cumpra-se o nosso fado.

Ao atravessarem o arraial, os dois filhos renegados da Espanha notaram que nos cabeços das almenaras a escuridão era tão profunda como no resto do campo. Tudo, porém, estava tranquilo. Apenas, a pouca distância, lhes pareceu verem passar como sombra um cavaleiro, que se encaminhava para o lado do pavilhão de Abdulaziz. Era, provavelmente, algum soldado de Al-Sudan, que, transnoitado, se retraía para o seu alojamento junto da tenda do amir.





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