O conde de Septum e os mais capitães godos aliados dos agarenos conservavam-se ainda nos lugares que haviam ocupado durante o banquete. Para aquela extremidade da vasta mesa viam- -se algumas ânforas tombadas e outras ainda cheias dos vinhos mais preciosos da Espanha; as taças que giravam ao redor eram as que produziam o tinir que soava fora, no meio do ruído das falas, dos gritos e dos cantos monótonos do xeique Abdallah.
Um guerreiro, cuja barba crespa e cerrada lhe caía como frocos de neve sobre os anéis dourados do saio de malha, estava assentado à direita de Juliano. A brancura dos seus cabelos era o único sinal que se lhe enxergava de uma larga peregrinação na terra; porque o rosado da tez, a viveza dos olhos azuis, o garbo nos meneios e a robustez dos membros agigantados mostravam nele mais que muito a compleição vigorosa de homem de boa idade. Era Opas, o bispo Opas, que se esquecera do sacerdócio, como se havia esquecido da pátria, e que, habituado à vida solta dos arraiais, excedia já na violência de paixões ignóbeis os mais desenfreados e bárbaros chefes das tribos semi-selvagens da África. Muitos outros tiufados e quingentários, assentados ao longo da mesa, davam mostras de infernal alegria, despejando as taças de prata, que os libertos lhes enchiam de novo para de novo rapidamente se esgotarem.
— Vede os nazarenos malditos — dizia Abdulaziz em voz baixa ao xeique Abdallah, olhando de través para os godos. — O amor da embriaguez nunca os deixará ver a luz que mana das páginas do divino Corão. Para eles o fruto da vide será sempre a ponte estreita, da qual, ao passarem na morte, se despenharão no inferno.
— E que nos importa as suas almas tisnadas — replicou Abdallah — se eles nos ajudam a sujeitar à lei do santo profeta o império de Andaluz? Sem Deus e sem pátria, deixai-lhes ao menos a sua bruteza.