Eurico, o Presbítero - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 126 / 186

Até aí não fizera mais do que defender-se dos soldados transfretanos que o cercavam; mudando, porém, da defensão para o cometimento, arrojou-se contra os seus adversários, e em poucos instantes os que não caíram ante a acha de armas foram constrangidos a fugir, buscando amparar-se no meio dos esquadrões que se aproximavam.

Então o cavaleiro deu volta. A senda alvacenta que se estirava por entre o mato até a floresta começou a embeber-se-lhe debaixo dos pés do ginete. À vista, assemelhava-se a um rolo de fita, estendido e retesado por momentos, que, solto, busca, volvendo-se de novo, a sua curvatura anterior. A rapidez da corrida era quem o podia salvar: a dianteira dos almogaures árabes hesitara vendo recuar tantos homens diante de um homem só; porém, ao retroceder do cavaleiro, lançavam-se despeadamente após ele para o alcançarem antes que chegasse ao bosque.

Mas a distância que os separava era grande, e os árabes, lançando-se às cegas por entre as sarças e estevas e enredando-se nelas, retardavam-se a si próprios e aumentavam essa distância. A sua alarida, que ia retumbar ao longe nas anfractuosidades da serra, ajudava o esporear do guerreiro com o espanto que produzia no ágil e robusto ginete. Já bem perto do extremo da selva, o cavaleiro pôde distinguir uns vultos que pareciam esperá-lo. Ao seu bradar «Covadonga e Pelágio!» respondeu o mesmo brado, proferido por uma voz retumbante. Conheceu-a: era a de Sanción. O fero gardingo cumprira a sua promessa. A despedida dos cristãos do campo de Abdulaziz devia ficar escrita com letras de sangue na história dos triunfos do Islame.

Chegando à orla do bosque, as primeiras palavras que o cavaleiro negro soltou foram dirigidas a Sanción.

— Porque voltaste sem vo-lo eu ordenar, vós os que tínheis jurado obedecer-me em tudo? Onde está a irmã de Pelágio?





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