Eurico, o Presbítero - Cap. 16: Capítulo 16 Pág. 145 / 186

Todos calaram de novo; mas aqui não houve silêncio: ouvia-se já o ruído dos corredores sarracenos, bem de perto, no fundo do vale.

E, ao proferir o cavaleiro negro o nome de Eurico, a irmã de Pelágio soltou um gemido e deu em terra como se fora morta.

— Nenhum! — rugiu o guerreiro quase sufocado de furor e de angústia; e, alongando a vista pelo portal do recinto, viu alvejar os turbantes, e, depois, surgiram rostos tostados, e, depois, reluzirem armas. Os árabes começavam a galgar a ladeira. Astrimiro descera de um pulo do valo.

A contracção de agonia que neste momento passou nas faces do cavaleiro negro, estendendo para o céu os punhos cerrados, não haveria aí palavras humanas que a pintassem. Não disse mais nada. Tomou nos braços aquele corpo de mulher que lhe jazia aos pés e encaminhou-se para a estreita ponte do Sália. Era o seu andar hirto, vagaroso, solene, como o de fantasma: parecia que as suas passadas não tinham som; que lhe cessara o coração de bater, e os pulmões de respirar.

Viram-no atravessar, lento como sombra; como sombra, lento, hirto, solene, internar-se com Hermengarda na selva da outra margem.

Era um corpo ou um cadáver que conduzia? Estava morta ou estava salva?

Sanción e os demais godos tinham ficado imóveis de espanto e de susto. Aquele homem, menos habituado a transitar por meio dos precipícios das montanhas, cometera um feito, para o qual lhes falecera o ânimo.





Os capítulos deste livro