Só Hermengarda abaixou os olhos, e ajoelhou com as mãos erguidas no meio deles, murmurando:
— Não posso! Abandonai-me!
Então o cavaleiro negro, tomando-a pela mão, correu a vista pelas duas alas: no seu gesto havia a mesma expressão imperiosa e sinistra de que se revestira quando em Covadonga embargara a saída de Pelágio.
— Qual de vós ousa tomar nos braços a irmã do duque de Cantábria e conduzi-la por cima do abismo para a outra margem? Qual de vós ousa jurar sobre a cruz da sua espada que sem vacilar o fará?
Houve um momento de silêncio: todos os rostos empalideceram; todos os lábios calaram.
Um alarido de muitas vozes o interrompeu: eram os infiéis, que a meia encosta haviam enxergado os fugitivos e que se atiravam para o vale.
— Não há entre vós um que o ouse? — reperguntou o misterioso guerreiro, fitando o olhar sucessivamente em todos. — Vai seguro o que o tentar. A entrada deste recinto é estreita, e os pagãos antes de chegarem ao Sália passarão por cima do meu cadáver. Direis depois a Pelágio que somente o cavaleiro negro lhe pede, a ele e a sua irmã, algumas lágrimas em memória de um tiufado de Vitiza, que deixou de viver... Chamava-se Eurico... Ele nos tenros anos ainda o conheceu em Tárraco... Fruela, Gudesteu, e tu, Sanción, qual de vós será o mensageiro? qual de vós será o salvador de Hermengarda?