Eurico, o Presbítero - Cap. 17: Capítulo 17 Pág. 151 / 186

— São as tiufadias da Tingitânia: são os soldados réprobos do conde de Septum, que Deus conduz aos desertos das Astúrias para que os abutres e javalis tenham lauto banquete de cadáveres.

Pelágio e o centenário voltaram-se: a voz que proferira estas palavras soara atrás deles. Era o cavaleiro do escabelo, que despertara às primeiras palavras do capitão dos esculcas e que, firmados os cotovelos sobre os joelhos e com a cabeça entre os punhos, escutara todo o diálogo.

— Quê?! — exclamou o mancebo — ainda há pouco havíeis cerrado as pálpebras; e já despertastes, Eurico?

— Duque de Cantábria, desde muito que o sono é sempre breve para mim: há muito que nestas veias ele não derrama consolação nem frescor. Adormecido ou desperto, o meu espírito vê sempre ante si imutável a realidade, e a realidade é medonha. Oxalá pudesse esta alma dormir!

— Bem o sei! — replicou o filho de Fávila. — A imagem da pátria, santa e melancólica, se misturava sanguinolenta nos vossos sonhos do dormitar. Algumas palavras soltas que proferíeis...

— Ah! — interrompeu o cavaleiro, pondo-se em pé rapidamente, com um gesto de espanto. — Eu falava?! Eram tão extravagantes os meus sonhos!... Que palavras me ouvistes! Delírios, loucuras!... Dizei; não é assim?

E olhava inquieto para o mancebo, como se receasse que um segredo importante lhe houvesse fugido dos lábios.





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