Eurico, o Presbítero - Cap. 17: Capítulo 17 Pág. 153 / 186

O centenário saiu.

Pelágio chegou-se então aos que dormiam e, despertando-os um a um, fê-los aproximar da boca da gruta:

— Vedes vós a estrela matutina que empalidece? — disse, apontando para um breve espaço do firmamento, onde, através do portal irregular, se via fulgir o planeta Vénus. — Não tarda muito que ela desapareça mergulhada na vermelhidão da aurora. Essa vermelhidão tingirá em breve o céu, como o sangue há-de hoje tingir a terra: mas confio em Deus que, também, como após ela há-de surgir o Sol envolto no seu fulgor glorioso, assim a Cruz e o nome dos Godos se alevantarão triunfantes, após o sangue vertido por esses dois objectos santos e queridos, que nos têm alimentado a energia da alma no meio dos trabalhos e perigos. Guerreiros! os árabes seguiram as vossas pisadas. Abdulaziz e Juliano, um insensato e um renegado, ousaram aproximar- se ao antro dos leões de Espanha, e os leões hão-de despedaçá- -los. O céu condenou-os: diz-me íntima voz que ele os condenou, inspirando- me um estratagema a que os infiéis não poderão resistir.

No gesto de Pelágio, ao proferir estas palavras, estava estampada a expressão da confiança, do esforço e do entusiasmo; daquele entusiasmo que ele sabia comunicar aos que o ouviam e que, na situação quase desesperada em que se achavam os foragidos das Astúrias, fizera com que lhe cedessem voluntariamente o mando supremo os mais velhos e experimentados guerreiros.

Pelágio expôs em breves palavras os seus desenhos para obter dos árabes um triunfo completo. O caminho que seguiam devia forçosamente trazê-los às gargantas das serras.





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