Eurico, o Presbítero - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 20 / 186

Lá, o rei sabia que o poder lhe vinha de Deus e da vontade dos Godos, que o centro era cajado de pastor, não cutelo de algoz, e a coroa uma carga pesada, não uma auréola de vanglória.

Hoje, nos paços de Toletum só retumba o ruído das festas, os francos e os vascónios talam as províncias do Norte, e a espada dos guerreiros só reluz nas lutas civis.

Hoje, os príncipes na embriaguez dos banquetes esqueceram-se das tradições de avós; esqueceram-se de que era aos capitães das hastes da Germânia que os romanos imbeles davam o nome de reis.

Hoje, a prostituição entrou no templo do Crucificado: os claustros das catedrais velam com o seu manto de pedra as abominações da torpeza, e as mãos do sacerdote deixam muitas vezes humedecida a tela que veste os altares com vestígios do sangue derramado covarde e vilmente.

Hoje, a cobiça assentou-se no lugar da equidade: o juiz vende a consciência no mercado dos poderosos, como as mulheres de Babilónia vendiam a pudicícia nas praças públicas aos que passavam, diante da luz do dia.

Hoje, a espada substituiu o conselho dos prelados, dos nobres e dos homens livres: a coroa é uma conquista, a lei vontade do desonrado vencedor de pelejas domésticas, a liberdade palavra mentida.

Império de Espanha, império de Espanha! porque foram os teus dias contados?





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