Eurico, o Presbítero - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 37 / 186

Juliano parecia querer responder ao mancebo, quando um soldado entrou com um rolo de pergaminho na mão e, entregando-o a Táriq, proferiu algumas palavras em árabe. Táriq olhou então para Juliano com um sorriso e, estendendo-lhe a dextra, disse-lhe em voz baixa:

— Váli de Sebta! perdoa-me este ímpeto, como me tens perdoado tantos outros. Bem sei que não podes compreender o que é a fé viva de um muçulmano na protecção de Deus: mas eu seria réu do inferno, se duvidasse um instante das promessas do profeta. O judeu Zabulão acaba de chegar com essa carta do que vós chamais bispo de Híspalis. Lê-a e dize-me que novas há de Roderico.

Juliano desdeu o nó da carta e leu. Batia-me o coração de furor; mas procurei tranquilizar-me. Importava-me assaz conhecer o que ela continha para dever prestar toda a atenção possível às palavras do conde Juliano.

— Roderico — disse este, acabando de correr com os olhos o rolo de pergaminho —, entregue aos banquetes e festas, não acredita que o dia da vingança amanhecesse para a Espanha; todavia, logo que a notícia indubitável da nossa vinda retumbar sob os tectos dourados dos paços de Toletum, ele convocará os seus numerosos soldados, as suas tiufadias veteranas, e arremessar-se-á contra nós; porque Roderico é dissoluto e perverso, mas nunca foi covarde. O prudente Opas pensa, como eu, que importa fortificar-nos no Calpe. Aconselha-o a ciência da guerra, e se, como crente, confias no teu profeta para contar com a vitória, como capitão deves seguir os conselhos da prudência humana. Também eu espero no deus das batalhas — prosseguiu o conde em tom de mofa, batendo no punho da espada —; também eu tenho a minha providência; mas a águia, quando se arroja sobre a preia, tem já construído o seu ninho no penhasco da montanha, e as penedias do Calpe devem ser o ninho das águias que pairam sobre o trono de Roderico.





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