Eurico, o Presbítero - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 53 / 186

A ala direita, dividida em dois esquadrões capitaneados pelos dois filhos de Vitiza, Sisebuto e Ebas, continha a flor dos cavaleiros da Cartaginense. Com estes estava o corpo que o metropolitano de Híspalis ajuntara, composto em grande parte dos nobres que haviam deposto a espada desde que Roderico subira ao trono e que a cingiam de novo nesta guerra de independência. A ala esquerda, mais pequena que as outras duas, não parecia por isso menos de temer para os árabes. O duque de Córdova, Teodemiro, era o capitão dessa ala, em que estavam todos os veteranos que o tinham ajudado a repetir as primeiras tentativas dos maometanos e que já conheciam por experiência o modo de pelejar deles. Estes velhos soldados deviam levar ao combate os mancebos que, à voz de Teodemiro, tinham corrido às armas de todos os lados da Bética e em cujos corações o afamado guerreiro soubera despertar o sentimento da glória e do amor da pátria. Com ele militavam, enfim, as relíquias dos soldados tingitanos que não tinham querido associar-se à traição do conde de Septum.

Como os árabes, os godos tinham no meio de si uma nuvem de peões armados, não menos bárbaros e ferozes que os filhos da Mauritânia. Os montanheses do Hermínio na Lusitânia, aborígenes, talvez, daquele país, os quais, na época das invasões germânicas, bem como já na da conquista romana, a custo haviam submetido o colo ao jugo de estranhos, e os vascónios, habitadores selvagens das cordilheiras dos Pirenéus, constituíam com os servos um grosso de gente a que hoje chamaríamos a infantaria do exército. As suas armas ofensivas eram a cateia teutónica, espécie de dardo, a funda, a clava ferrada e o arco e a seta. Requeimados pelo sol ardente do Estio ou pelo vento gelado dos invernos rigorosos das serranias, incapazes de conhecerem a vantagem da ordem e da disciplina, estes homens rudes combatiam meios nus e desprezavam todas as precauções da guerra. O seu grito de acometer era um rugido de tigre. Vencidos, nunca se lhes ouvia pedir compaixão; porque, vencedores, não havia a esperar deles misericórdia. Tais eram os soldados que a Espanha opunha à mourisma que circundava os árabes.





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