Eurico, o Presbítero - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 75 / 186

«As asas da tua providência, oh Senhor, expandem-se por cima da terra, e o justo desgraçado acolhe-se debaixo delas: Porque aí moram os santos contentamentos; esquecem as dores da vida; vive-se à luz da esperança. Confiado em ti, o fraco afronta as tiranias do forte; o humilde ri das soberbas do poderoso. Quem revelou aos pequeninos e opressos esta divina guarida? Quem nos ensinou a esperar? Quem a ser feliz pela fé no meio das agonias? Foi Cristo, o teu filho querido. A tua justiça condenava à dor o género humano, ainda no berço: ele nos conquistou para a felicidade no meio dos tormentos da Cruz. Nós tomaremos, também, esta em nossos ombros: ela é a guia da bem-aventurança. O seu peso é suave: porque sob ela os espinhos da existência que ensanguentam os membros do peregrino sem repouso, chamado o homem, convertem-se em prado macio de relva e boninas. Que reine para sempre a Cruz! Erguei-a sobre todos os píncaros das serranias, gravai-a em todas as árvores dos bosques, hasteai-a sobre as rochas marítimas, estampai-a nas muralhas das cidades, na fronte dos edifícios, apertai- a ao coração. E depois, que o género humano se prostre e adore nela a redenção que nos trouxe o Ungido de Deus. A Cruz triunfará eterna!»

Neste momento aquelas vozes harmoniosas cessaram, como se de súbito nos lábios de todas as monjas se houvesse posto o selo da morte. A porta do templo, aberta com violento impulso, rangera nos gonzos, e um velho ostiário viera cair de bruços sobre as lájeas do pavimento, soltando o grito doloroso que por tantos milhares de bocas diariamente se repetia na Espanha: — Os árabes!

As vozes confusas dos vigias, misturadas com o tinir do ferro, responderam, como uivar de feras, às palavras do ostiário: as faces pálidas das virgens empalideceram ainda mais.





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