Eurico, o Presbítero - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 82 / 186

E, de feito, o seu olhar e gesto eram de uma inspirada: mas nesse olhar e gesto havia o que quer que era de severa aspereza misturado com alegria suave, como em céu que varre o noroeste as nuvens tenebrosas remendam o azul puríssimo do firmamento, donde, por entre elas, jorram torrentes de luz.

— Mas o juramento ? — tornou tristemente o quingentário. — Devo respeitar o vosso segredo; todavia parece-me lícito duvidar da eficácia dos meios que imaginais para vos salvardes das mãos dos muçulmanos.

— O vosso juramento é inútil — acudiu Cremilde — e eu vos escuso dele. A resistência só servirá para arrastardes convosco à morte os velhos inermes e as criancinhas inocentes. Ide, e abri pacificamente as portas aos pagãos. Se tanto é preciso, eu vo-lo ordeno. Atanagildo, um dia nos veremos no céu.

Ditas estas palavras com toda a firmeza de resolução inabalável, a abadessa afastou-se da reixa e encaminhou-se para o meio das freiras, que, entretanto, haviam estado imóveis com os olhos cravados no pavimento. O quingentário ficou por alguns momentos pensativo: depois, agitado pela luta cruel dos afectos e pensamentos opostos que tumultuavam no seu coração, atravessou vagarosamente o templo e desapareceu.

A um sinal de Cremilde as monjas saíram do coro; a donzela vestida de branco, ao lado da venerável abadessa, apertava-lhe a mão entre as suas: mas os seus meneios eram firmes como os dela e mais do que os dela altivos. Desde que a última freira passou, as preces misturadas de soluços que sussurravam na igreja converteram-se num som único de choro perdido, como se a última esperança houvera desaparecido com elas.





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