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Capítulo 12: Capítulo 12

Página 83

A campa do mosteiro bateu três pancadas com largos intervalos: é o sinal que convoca as monjas a capítulo. Para lá se encaminham. A donzela que nessa noite chegara acompanha-as, também, aí. Entraram. As pesadas portas da casa capitular rangem nos gonzos cerrando-se, e o correr dos ferrolhos interiores reboa ao longe pelos corredores monásticos. Ao mesmo tempo a ponte levadiça cai sobre o fosso que rodeia as muralhas do vasto edifício: um cavaleiro se arroja sozinho ao meio dos esquadrões do Islame, que já subiram a encosta, e pede para falar com o conde de Septum em nome de Atanagildo. Dentro de poucos instantes ei-lo que volta, e os muçulmanos param a curta distância. Então um grande número de crianças, de velhos e de mulheres, saindo, como torrente comprimida, do portal profundo do mosteiro, atravessam por meio das duas fileiras de soldados de Juliano e de guerreiros árabes que vieram colocar-se aos lados da ponte. Esta multidão desordenada ondeia, separa-se, apinha-se de novo, para tornar a espalhar-se, até que desaparece ao longe, caminho das montanhas. Após ela, cobertos dos seus saios de malha, mas sem armas, os soldados de Atanagildo seguem com gesto melancólico as mesmas trilhas por onde se vai escoando a turba, até que também, como esta, se derramam pelas selvas densas dos montes e pelos barrancos escarpados que, retalhando os Nervásios, dão passagem através deles para as regiões setentrionais da Espanha.

Apenas o quingentário, que fora o derradeiro a atravessar a ponte levadiça, volvendo os olhos arrasados de lágrimas para aquela santa morada, desceu a encosta, as duas fileiras de soldados arremessaram-se ao fundo portal, cujas abóbadas pela primeira vez reboaram com os gritos discordes de homens desenfreados, e o edifício solitário respondeu-lhes com um silêncio lúgubre. Diante deles estavam patentes as vastas arcarias e escadas, os longos corredores, os pátios espaçosos. Lá, no centro, o templo solitário, com as portas abertas de par em par, amostra-lhes aos olhos ávidos as suas riquezas, ao passo que parece querer vedar ao Sol, com as cores sombrias das vidraças das janelas, o espectáculo das profanações de que na sua existência secular vai ser teatro e testemunha pela primeira vez.

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Capa do livro Eurico, o Presbítero
Páginas: 186
Página atual: 83

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 12
Capítulo 5 18
Capítulo 6 22
Capítulo 7 28
Capítulo 8 32
Capítulo 9 46
Capítulo 10 55
Capítulo 11 63
Capítulo 12 71
Capítulo 13 90
Capítulo 14 105
Capítulo 15 121
Capítulo 16 134
Capítulo 17 148
Capítulo 18 158
Capítulo 19 171
Capítulo 20 176