Inferno - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 29 / 102

Nesse momento mostrou-se uma sombra ao lado desta, que até ao queixo era visível; creio que se pusera de joelhos. Olhou em torno, como si em mente tivesse ver se havia alguém comigo, e, depois de libertar-se dá suspeitas, assim falou, chorando: «Se pelo teu grande engenho este negro cárcere atravessas, diz-me onde está meu filho. Porque não está contigo?» E eu tornei-lhe: «Não venho por mim só: aquele que além espera consigo me trouxe; vosso Guido foi talvez desdenhoso com ele.»

As suas palavras e o seu tom de dor o nome dele me haviam revelado já, e portanto lhe dei resposta tão cabal. Ergueu-se de súbito e assim perguntou: «Como? Disseste foi? Não vive já? Não fere os olhos seus a doce luz?» Quando se apercebeu de alguma demora na minha resposta, voltou a cair, de costas, e não mais apareceu. Mas o outro magnânimo, diante do qual me conservava, não se alterou nem moveu a cabeça ou inclinou o corpo e, prosseguindo a fala anterior, assim me disse: «Se mal aprenderam essa arte, mais me atormenta isso que este leito. Mas não se iluminará cinquenta vezes o rosto da mulher que aqui governas antes que saibas o que tal arte pesa. E, se alguma vez ao doce mundo regressares, diz-me: porque é que aquele povo tão cruel contra os meus em todas as leis suas?» E eu tornei-lhe: «A destruição e a grande matança que o Árbia de rubro tingiu levou a que tais leis no nosso templo se fizessem.»

Depois de suspirar, movendo a cabeça, disse: «Não estive sozinho nesse feito, nem por certo sem razão aos outros me juntei; mas fui eu só que, quando todos na ruína de Florença consentiam, de peito aberto a defendi.» «Ah, que tenha paz a vossa descendência!», roguei-lhe, «mas aclarai a dúvida que a mente me assalta, pois, se bem entendo, diante vós vedes o que o futuro nos reserva, mas o mesmo vos não sucede com o presente.» «Nós vemos, como os que têm fraca a vista, as coisas», respondeu, «que não estão longe, desde que o Supremo Mestre no-las ilumine; mas, quando se aproximam ou são já existentes, nada sabemos da condição da humanidade. Assim entenderás decerto que o nosso conhecimento morrerá tão logo se feche a porta do futuro.»





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