Inferno - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 35 / 102

Oh, cega cupidez, oh, louca ira que tanto nos aguilhoas durante a curta vida e depois na eterna a tais penas nos submetes! Vi uma ampla fossa em forma de arco, que abrasava a planície inteira, conforme o meu guia dissera; e entre esta e o sopé da escarpa corriam em fila centauros armados de setas, como no mundo costumavam ir à casa. Vendo-nos descer, pararam todos e do grupo adiantaram-se três com arcos e flechas previamente escolhidos, gritando um de longe: IRA que martírio vindes, vós que descestes pela encosta? Respondei daí, senão disparo o arco.»

Disse o meu mestre: «A resposta, a Quíron a daremos, quando estivermos perto. Infelizmente, apressada de mais foi sempre a tua vontade.» Depois tocou-me e disse: «Aquele é Nesso, que pela bela Dejanira morreu e por esta ele próprio se vingou; o outro, que no meio está e contempla o próprio peito, é o grande Quíron, que criou Aquiles; aqueloutro é Folo que tanta ira em si conteve. Em redor da fossa seguem aos milhares, lançando flechas contra as almas que se erguem do sangue mais do que o pecado que têm lhes permite.»

Acercámo-nos dos monstros velozes. Quíron agarrou uma seta e com o conto puxou a barba para trás da queixada e, quando a grande boca descobriu, disse aos companheiros: «Reparastes que aquele que vai atrás move o que toca? Assim não soem fazer os pés dos mortos.» E o meu bom guia, que já ao peito lhe chegava, onde se casam as duas naturezas'°, respondeu: «Está bem vivo e, se mostrar-lhe o vale escuro me foi ordenado, é a necessidade, e não o prazer, que nos impele. Alguém deixou de cantar aleluias para me cometer esta nova tarefa; nem ele é ladrão, nem eu alma penada. Mas, por aquela virtude que os meus passos guia ao longo de tão árduo caminho, dá-me um dos teus, que nos acompanhe e mostre onde se passa a vau e que leve este na garupa, pois não é espírito que no ar se desloque.»





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